terça-feira, 22 de junho de 2010

O que sobrou dos urubus


Eles já se acostumaram
Com a minha presença.
De início fiquei com medo
De ser visto como um invasor,
Pelo fato de entrar
Sem pedir licença;
Fiquei temeroso de serem rudes,
Mas felizmente não apresentaram
Qualquer tipo de resistência.
Agora que os anos já se passaram
Até eles também aprenderam a me tratar
Com total indiferença.

Eles comem junto comigo;
Comem do que eu como
E vivem onde eu sobrevivo,
Mas geralmente
Eles comem primeiro
Do que eu,
E até chegam a viver
Melhor do que eu vivo.

O resto deles
É o que me resta de refeição.
Às vezes sinto-me envergonhado
Diante dessa triste situação,
Mas se não fosse isso
Certamente eu morreria de inanição.

Na atual conjuntura dos fatos,
Comer o que sobra
Dos urubus é a minha única salvação,
Mesmo que minha alma
Já esteja em total
Estado de decomposição.
Às vezes chego até a pensar
Que vim ao mundo
Só para viver nessa triste condição.
Será que eu nasci em vão?
Ou pior: será que vim ao mundo
Só para passar humilhação?
Não, não!
Recuso-me a acreditar nessa
Quase afirmação.
Mas estou cansado de viver
Abaixado catando grão.

Infelizmente o que me resta
É catar no chão
As migalhas da minha vida
Já despedaçada pela
Falta de dignidade.
Mas seguirei olhando para o céu,
Pedindo a Deus encarecidamente
Um pouco mais de igualdade,
E que ele possa devolver um dia desses
A minha já esquecida hombridade.

BrunoricO.

Um comentário:

"Refletindo na sua face o outro lado" disse...

Belo Belo ! Retrata a realidade de muitas pessoas que a maioria esquece ou finge que não existe... entristece e é inacreditavel de ver até onde o ser humano deixou chegar seu proximo...